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terça-feira, 17 de junho de 2008

Bispo lança livro e desafia leis da Igreja.

Bispo lança livro e desafia leis da Igreja - Fronteiras // Dom Clemente Isnard, emérito da diocese de Nova Friburgo (RJ), está no Recife para apresentar publicação polêmicaJailson da Paz Da equipe do diárioHá temas que quase toda pessoa, seja católica ou não, gosta de se posicionar. Alimentar discussões e polêmicas. Entre eles o celibato sacerdotal e o direito das mulheres celebrarem missas. Já o Vaticano costuma tratar os assuntos com certo cuidado. E poucas vozes da Igreja, nas últimas décadas, ousaram contribuir com o debate fora das paredes dos seminários e das cúrias. O bispo emérito da Diocese de Nova Friburgo (Rio de Janeiro), dom Clemente Isnard, resolveu derrubar tais barreiras. Aos 90 anos e reconhecido internacionalmente por seu trabalho no campo litúrgico, ele lança hoje o livro - Reflexões de um bispo sobre as instituições eclesiásticas atuais - que promete jogar lenha na fogueira. E não fala apenas do celibato e das mulheres, trata de um dos pontos quase intocável no Vaticano: a participação dos leigos na escolha dos bispos. O lançamento nacional ocorre às 19h na Igreja das Fronteiras, bairro do Derby. Um sinal de reconhecimento ao trabalho feito por dom Helder Camara."Fala-se tanto na faltade sacerdotes, nas paróquias sem padres, nos padres que se secularizaram deixando o ministério. E não se pensa nos padres de valor e que se casaram e que poderiam ter continuado no ministério se a Igreja lhes tivesse concedido matrimônio", argumentou o bispo emérito. Dom Isnard encontra justificativa para seu posicionamento na experiência. Foram mais de 30 anos à frente da Diocese Nova Friburgo. E também no conhecimento histórico. Ele lembra que a exigência do celibato apareceu pela primeira vez por volta do ano 300, mas que ainda hoje as igrejas orientais católicas permitem que padres se casem. Segundo o religioso, a multiplicação dos diáconos permanentes é um sinal de que o padre casado seria bem aceito em muitos lugares. Os diáconos são homens casados ou celibatários que podem pregar, mas não estão autorizados a consagrar a hóstia e o vinho.Dom Isnard recorre ao olhar de pastor para se posicionar em defesa das mulheres. "Em minha longa vida conheci padres incapazes de ser párocos e conheci também religiosas e leigas consagradas com capacidade de dirigir comunidades", testemunhou. Para o monge beneditino, a dispensa do celibato não é uma mudança teológica, mas disciplinar. E sugere a necessidade de se analisar a Bíblia, quando São Paulo afirma que todos - judeu e grego, servo e livre, macho e fêmea - são iguais perante Deus. "Esse me parece um poderoso argumento bíblico em favor da ordenação de mulheres", acredita.As análises do autor se voltam também para a eleição dos bispos. "Em nossos dias o povo não é ouvido na eleição, mas pode se manifestar na hora do enterro", afirma, lembrando que a participação dos leigos nas eleições era comum no primeiro milênio de existência da instituição. Essa a prática foi caindo em desuso com a crescente interferência dos reis. Diante do que viveu e conhece, o bispo emérito defende que o ideal seria voltar ao regime do primeiro milênio, onde bispos, clero e povo participavam das escolhas.O povo, exemplifica, seria homens e mulheres engajados na Igreja, idosos e jovens, em número que expressasse as duas categorias E conclui, de maneira incisiva que a "descentralização das nomeações episcopais traria um alívio notável para as finanças da Sé Apostólica, uma vez que o pessoa da nunciatura não precisaria ser tão numeroso". Coicindência ou não, dom Isnard contou que uma cópia do seu livro foi entregue ao núncio apostólico no Brasil antes da publicação. E esse teria pedido a Editora Paulus, com quem estava outra cópia do texto, para não publicar o livro.Ainda sobre os bispos, dom Isnard se pergunta como recuparar um episcopado zeloso, culto e avançado. Ele mesmo responde que na situação atual seria necessário um novo concílio ecumênico para completar o Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965 e responsável por mudanças na Igreja. Uma delas foi permitir a celebração das missas em diversas línguas, acabando com a ditadura do latim. Mesmo apontando o caminho, o bispo emérito acredita que dificilmente haveriam mudanças hoje. Isso porque a Cúria Romana prepara e redige tudo.Entrevista [Clemente Isnard]"Não nos comportemos como fariseus" A dedicação de dom Clemente Isnard à Igreja Católica se aproxima de sete décadas. Nesse tempo, ele ssumiu diversas funções. Foi o primeiro bispo de Nova Friburgo, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), além de ter participado como padre conciliar de todas as etapas do Vaticano II e integrado comissões junto à Santa Sé. O bispo emérito conhece bem os caminhos da Igreja, especialmente no campo litúrgico. Parte desse conhecimento está no livro Viver a liturgia também a ser lançado hoje, no qual reúne uma série de reflexões. Na obra, dom Isnar afirma que à medida que a idade vai chegando, sente-se mais livre para escrever o que pensa. "Gozando de plena liberdade, posso elogiar ou criticar também autoridades eclesiásticas sem considerar cargos ou pessoas", salienta. Essa firmeza pode ser vista na entrevista abaixo:Por que escrever sobre temas polêmicos como o celibato e a escolha dos bispos?Dom Clemente Isnard: Para dar meu testemunho como bispo para o povo.E como surgiu a idéia da publicação?Dom Clemente Isnard: Depois da missa de meus 90 anos, na Igreja das Fronteiras, no ano passado. Na homilia, falei dos meus sonhos para a Igreja e depois da celebração padre José Comblin, da Paraíba, pediu para eu escrever. O livro é o resultado.O senhor recebeu alguma pressão para não publicar o livro?Dom Clemente Isnard: Quando o texto estava pronto, uma cópia foi tirada do meu computador sem minha autorização indo parar nas mãos do núncio apostólico, dom Lourenzo Baldisseri, que pediu a Editora Paulus para não publicar o trabalho. O livro está saindo por outra editora, a Olho d'Água. Alguma autoridade chegou a pedir diretamente para que o senhor desistisse?Dom Clemente Isnard: Todos os bispos do Regional Leste 1, que reúne as dioceses do Rio de Janeiro, fizeram uma carta me pedindo para não publicar o livro. Eles alegavam que os assuntos poderiam ser mal interpretados e isso seria ruim para a Igreja.Não teme repercussões negativas?Dom Clemente Isnard: Meu Deus!, Eu acho que a discussão sobre esses temas somente fará bem. A Igreja é santa e pecadora. E a história mostra que as mudanças na Igreja demoram séculos para mudar. Talvez tenhamos que esperar um milênio, mas temos que ser insistentes. Com o livro, quero apenas conscientizar as pessoas.E se o Vaticano chamar o senhor como fez com Leonardo Boff nos anos 80?Dom Clemente Isnard: Já estou velho, mas vou lá. Repito o que está no livro e outras coisas mais. Tudo farei sobre a luz do Evangelho, que pediu para não nos comportarmos como fariseus.O senhor pensa escrever outros livros desse tipo?Dom Clemente Isnard: Sim. E penso em incluir um capítulo que, a princípio, seria publicado nas reflexões atuais, mas retirei por sugestão de um padre que fez análise do livro.E de que tratava?Dom Clemente Isnard: Nesse capítulo, eu abordava a questão dos bispos auxiliares., tendo como fundamento experiências vividas em dioceses brasileiras.Trechos do livroPARTICIPAÇÃO POPULARDom Clemente Isnard: "Sabemos que certas nomeações episcopais são mal acolhidas pelo povo, e com razão. Quando se fala que o leigo de hoje chegou à maturidade, (#) reconhece que é um dever urgente voltar aos costumes do primeiro milênio no que toca à eleição dos bispos (...) Como seria bom e bonito que, no dia marcado, o bispo metropolitano, (#) se reunisse com representantes do clero e do povo e escolhessem todo o futuro bispo."REFORMA DA IGREJADom Clemente Isnard: "O papa polonês teve um longo pontificado e, com a colaboração de elementos conservadores que pululavam na Cúria Romana e que já tinham levantado a cabeça no fim do governo de Paulo VI, deu-se uma parada ou uma desaceleração no movimento de reforma da Igreja com alguns sinais de retrocesso. Evidentemente, com o atual sistema de nomeação, de bispos, isso teria conseqüências nas promoções do Brasil."NOMEAÇÕES EPISCOPAISDom Clemente Isnard: "Como fazer nomeações episcopais? O principal é que nelas estejam em atividade três elementos: o povo, o clero e a autoridade eclesiástica, ometropolita ou o papa. Não se trata de colocar a turba dentro da catedral como se fazia no primeiro milênio (#) Trata-se de fazer participar homens e mulheres engajados na Igreja, idosos e jovens, em número significativo conforme a diocese".CELIBATO SACERDOTALDom Clemente Isnard: "Fala-se tanto na falta de sacerdotes, nas paróquias sem padres, nos padres que se secularizaram deixando o ministério. E não se pensa nos padres de valor e que se casaram e que poderiam ter continuado no ministério se a Igreja lhes tivesse concedido matrimônio. Em igrejas orientais católicas os padres podem se casar. Por que não na Igreja Latina?".SACERDÓCIO FEMININODom Clemente Isnard: "O que dizer das palavras de São Paulo na Epístola aos Gálatas: "quem foi em Cristo, revestiu-se de Cristo. Não é um judeu nem grego; não é servo nem livre; não é macho nem fêmea. Todos vós sois um em Cristo" (3,27s). São Paulo nessa época prega a igualdade. (#) BISPOS EMÉRITOSDom Clemente Isnard: "O problema para os bispos eméritos é deixar a diocese e ficar vagando sem ter o que fazer. Depois deuma vida de intensa atividade, o bispo emérito não tem um trabalho empenhativo. Não foi o meu caso, pois logo comecei a trabalhar em Duque de Caxias. O povo, em geral, gosta do bispo e o bispo gosta de sentir o amor do povo".

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