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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A MEDITAÇÃO - (como deve ser feita!) - Dietrich Bonhoeffer

"Caríssimos todos, O texto anexo veio do Centro Mundial, enviado pelo Paulo Motirone (em 'docx). A pedido do Wilson Scremin fiz a tradução que também anexo (em doc, para garantir que todos possam abrir). Se algo parecer mal traduzido, agradeço que me comuniquem! A reflexão é forte, mas a meu ver muito oportuna... Um grande abraço a todos. 1! Márcio (Peixoto) -- CENTRO DOS VOLUNTÁRIOS (http://voluntariosdesaopaulo.blogspot.com)" -------- A Meditação O momento da meditação serve para refletir sobre a Sagrada Escritura e para a oração, e para nenhum outro fim. É um momento no qual estamos a sós com a Palavra. Desse modo ela nos oferece uma base sólida sobre a qual podemos nos apoiar e indicações claras sobre os passos a dar. Na meditação lemos o texto contando com a promessa de que ele tem algo para nos dizer em relação ao nosso dia e à nossa condição de cristãos, que contenha a Palavra de Deus dirigida particularmente a mim. Naturalmente é necessário, antes de tudo, ter compreendido o conteúdo do texto, mas não se trata de um trabalho exegético, de um estudo bíblico de qualquer tipo, trata-se, ao invés, de esperar que a Palavra de Deus se dirija a nós. Muitas vezes estamos de tal modo oprimidos e afogados em pensamentos, imagens e preocupações de natureza muito diferente, que é preciso muito tempo antes que a Palavra finalmente nos atinja, depois de termos colocado de lado tudo o que a atrapalha nesse caminho. Mas isso certamente acontece, como é certo que o próprio Deus veio até os homens e voltará até eles de novo. Não é necessário chegar à compreensão completa de todo o texto. Muitas vezes teremos que nos deter longamente sobre uma única frase, ou até mesmo sobre uma única palavra, porque ela nos bloqueia, nos obriga a estar ali, e não podemos mais evitá-la. Será que não basta uma única palavra como ‘pai’, ‘amor’, ‘misericórdia’, ‘cruz’, santificação’, ‘ressurreição’ para exaurir completamente o breve tempo destinado à meditação? Na meditação não é preciso que encontremos pensamentos originais. Basta e até muito que a Palavra entre profundamente e encontre morada em nós, assim como a tivermos lido e entendido. Maria «refletia no seu coração» sobre as palavras dos pastores. Também a nós muitas vezes acontece refletir longamente sobre as palavras de uma pessoa, que permanecem dentro de nós, que são elaboradas, mantendo-nos ocupados, suscitando em nós inquietude ou felicidade, sem que possamos fazer nada. Do mesmo modo, na meditação pessoal a Palavra quer entrar em nós e permanecer ali, quer mover- nos, trabalhar, agir em nós, fazer de tal modo que não nos livremos dela por todo o dia, e ela assim levará a termo a sua obra em nós, muitas vezes sem que nos apercebamos. Na meditação pessoal, assim como na vida cristã em geral, não existe um tempo reservado à introspecção. Apenas a Palavra é o objeto que deve atrair a nossa atenção, e tudo deve ser encaminhado à sua eficácia. «Procurai Deus, não a vossa alegria» : essa é a regra fundamental. Se você procura somente Deus, vai receber também a alegria: esta é a promessa de toda meditação. A reflexão sobre a Escritura nos leva a rezar. O caminho mais seguro para chegar a rezar é aquele que se percorre fazendo-se guiar pela Escritura. Deste modo evita-se o vazio que domina em nós mesmos. Então rezar não significa senão estarmos disponíveis para aplicar a nós mesmos a Palavra, seja no que se refere à nossa condição pessoal, seja em relação aos nossos deveres específicos, seja ainda em relação às nossas decisões, aos pecados e às tentações a que estamos sujeitos. Sobre a base da Palavra rezamos para termos clareza no nosso dia, para crescermos na santificação, para obtermos fidelidade e força no nosso trabalho, e podemos estar certos de que a nossa oração será ouvida. Porque nasce da Palavra e da promessa de Deus. A Palavra de Deus encontrou cumprimento em Jesus Cristo, e este é o motivo pelo qual todas as orações que dirigimos com base nessa Palavra encontrarão cumprimento e concessão em Jesus Cristo. A reflexão sobre a Escritura e a oração são um serviço devido, no qual a graça de Deus se deixa encontrar por nós. Por isso devemos nos habituar a dedicar a ela um momento fixo do dia, como a qualquer obrigação que devamos cumprir. Isso não é ‘legalismo’, mas ordem justa e fidelidade. Geralmente é o início da manhã o tempo oportuno, e nós temos direito, mesmo em relação aos outros, de utilizar assim esse tempo, fazendo de modo que seja completamente sem distúrbio e silencioso, apesar das dificuldades externas. Cada dia traz ao cristão muitas horas de solidão em meio a um mundo não cristão. Este é o tempo da verificação. Isto é, a prova da bondade da meditação pessoal e da comunhão cristã. A comunidade tornou os indivíduos livres, fortes, adultos, ou os tornou, ao contrário, dependentes, não autônomos? Conduziu-os um pouco pela mão para fazê-los aprender de novo a caminhar por si, ou os tornou medrosos e inseguros? Esta é uma das perguntas mais sérias e difíceis que são propostas a todos os cristãos que tem entre si uma comunidade de vida. Cada um deve saber que, mesmo no momento em que está isolado, tem uma retroação que interfere com a comunhão. Na sua solidão ele pode dilacerar e manchar a comunhão, ou ao contrário, reforçá-la e santificá-la. Toda forma de autodisciplina também é um serviço à comunhão. Por outro lado, não há pecado por pensamentos, palavras ou ações que seja tão pessoal e secreto que não danifique a comunhão. Há um agente patogênico que circula pelo corpo, talvez não se saiba de onde provêm ou em que parte esteja arraigado, mas o corpo está contaminado.Esta é a imagem da comunhão cristã. De fato nós somos membros de um corpo, não apenas quando queremos, mas em todo o nosso ser, e portanto cada membro serve o corpo inteiro, contribui para a sua saúde ou para o seu dano. Não se trata de teoria, mas de uma realidade espiritual que tem sido experimentada muitas vezes, com clareza desconsertante, na comunhão cristã, no sentido negativo e no positivo. - Dietrich Bonhoeffer.