POBRE e FRANCISCO
Igreja dos Pobres e Capitalismo Nascente
Duas
palavras – “pobre” e “Francisco” marcaram eleição do Papa. “Pobre”, lembra
Movimento da Igreja dos Pobres, durante o Concílio Vat. II. A expressão é de
João XXIII na abertura: “A Igreja é e quer ser Igreja dos Pobres.” Papa
Roncalli desencadeou movimento de 500 bispos da A. Latina, Ásia, África e Europa
no Pacto das Catacumbas – liderados pelo Cardeal Lercaro de Bolonha e bispos: Helder,
João Batista, Fragoso, José Maria Pires e outros, do mundo inteiro assessorados
por teólogos como Congar, Chénu, Rahner, King, Paul Gauthier, Schillembeck,
Diez Alegria.
Os avanços
do Concílio, o Movimento da Igreja dos Pobres, foram impulsionados por João
XXIII e Paulo VI e freados por João Paulo II e Bento XVI. Com Francisco, a
“Primavera” conciliar volta e a Igreja dos Pobres. Esse escriba, teólogo em
Roma (61-65) frequentou o Concílio com Paul Gauthier, padre-operário francês e
bispos brasileiros, antes de trocar Roma por Nazaré e Jerusalém. Sintetiza aqui
seu testemunho.
A 2ª
palavra, “Francisco” nos remete ao contexto histórico-econômico,
sócio-ambiental, cultural e ideológico em que Francisco de Assis nasceu e viveu
o capitalismo Nascente. As raízes da crise capitalista São Francisco as viveu e
lhes deu uma resposta existencial, tema cuja profundidade Leonardo Boff, amigo franciscano,
revelou em: “São Francisco de Assis- Ternura e Vigor” – considerado o melhor dele
por Frei Betto.
5 questões
significativas mereceram respostas existenciais, nada medievais.
ACUMULAÇÃO
DE CAPITAL: em vez de acumular riqueza, Francisco deixa tudo, comércio, herança
do pai e leva vida de um Chico qualquer movido pelo coração, ternura, partilha,
solidariedade, cooperação e fraternidade ontológica dos irmãos da natureza chamando
a vida e a morte de irmãs.
RICOS E
POBRES: o trovador da Úmbria viu o excedente e a carência produzindo injustiça
social. Propõe e vivencia fraternidade, partilha e pobreza, fundamentadas no
“ser” solidário e não no “ter” egoísta e individual.
LIBERTAÇÃO
INTEGRAL: é foco de Francisco optar preferencialmente pelos pobres, agentes
históricos que carregam ânsias de libertação num clima de companheirismo,
camaradagem, bondade e confiança.
ECUMENISMO:
é o meio de Francisco para mudar a Igreja, levando-a ao espaço do mundo, além
das catedrais, mosteiros e castelos. As fraternidades franciscanas eram a
expressão popular da Igreja recuperando a KOINONIA da Igreja Primitiva.
INTEGRAÇÃO
DO NEGATIVO: a vida e a morte dão opacidade ao real. Francisco opta pela
integração do negativo - cantando amor, vida, morte, saúde, doenças, árvores e
ervas daninhas, tudo envolvido na ternura. Sombra é trilha para Deus com
simplicidade e humildade!
Ninguém
busca em Francisco projeto econômico-político-ambiental. Francisco oferece palavras
e exemplos que apontam caminho de “libertação integral”, facilitando o cultivo
das condições subjetivas, sem as quais não haverá autêntica Transformação.
Tilden Santiago
Jornalista
Ex-Embaixador em Cuba
2003 a 2007
Diretor de Meio Ambiente da COPASA MG
Telefones: (31)3250-2014
tildensantiago@gmail.com