PERFIL ESPIRITUAL
RÔMULO DA SILVA
Voluntário de Deus
Belo Horizonte
(MG) - Brasil
Rômulo conheceu o Ideal em
uma Mariápolis, em julho de 1990, na cidade de Divinópolis (MG). Nesta época
ele era seminarista e cursava Filosofia. Para ele o deparar-se com a novidade
do Carisma de Chiara, apresentado naquela Mariápolis, foi uma grande surpresa,
segundo ele mesmo comentou com seus companheiros de grupo naquele encontro.
Renato Andrade, Voluntário
de Ouro Preto e Anthonio Marra, de BH, que naquela época eram Gen e estavam
naquela Mariápolis, depois se tornaram grandes amigos e companheiros de Ideal
do Rômulo. Ainda se lembram perfeitamente das impressões que tiveram dele nos
primeiros encontros:
uma
pessoa muito especial, culto, educadíssimo, muito sensível, muito inteligente,
crítico e extremamente racional. Mesmo suas experiências e descobertas
espirituais deviam passar antes pelo crivo da sua razão.
Rômulo ficou fortemente
impressionado com tudo o que viu e ouviu naquela ocasião em Divinópolis, e foi
tomado por uma grande curiosidade de conhecer mais profundamente essa nova
descoberta, aproveitando as oportunidades – de modo especial com Renato – para
“filosofar” sobre o Ideal de Chiara, sobre o comportamento diferente das
pessoas que tinha conhecido na Mariápolis, etc. A propósito destas ricas e
proveitosas conversas, Renato, tendo percebido o imenso potencial do Rômulo,
passou a acompanha-lo pessoalmente, indo com frequência visita-lo no Seminário
onde ele morava em BH, e faziam longos e profundos colóquios, que iam da
Filosofia à Espiritualidade da Unidade, do Movimento dos Focolares e suas
estruturas às experiências vividas do Evangelho. Rômulo demonstrava uma grande
sede espiritual e absorvia tudo o que lhe vinha explicado ou compartilhado.
Estava encantado com o Ideal.
Algum tempo depois ele foi a
uma Jornada Gen em BH, e, como recorda Anthonio,“ficou encantado ao encontrar jovens que procuravam escutar a Palavra e
coloca-la em prática. Sendo muito interessado, queria saber de tudo, e
rapidamente se aproximou dos Gen, que o receberam com alegria, iniciando com
eles uma intensa caminhada na unidade."
Logo ele entrou num grupo de
formação Gen e, em pouco tempo, o Ideal passou a ser o centro da sua vida. Aos
poucos foi percebendo a beleza de Deus no Ideal da Unidade, e o Evangelho foi
se tornando sempre mais real e vivo na sua vida. Quem dele se aproximava, via
claramente sua alegria, sua luz, presente no seu sorriso, no seu olhar e também
na sua maneira concreta de viver o amor. Ele sempre tinha uma palavra positiva,
uma demonstração sincera de admiração para oferecer às pessoas com quem
tratava.
“Como todos que conviveram com ele na época de Gen,
lembro-me da sua autenticidade, de como ele dava a vida pelo Ideal e amava
concretamente a todos. Sua família foi também tocada pela sua vida e alguns
quiseram aproximar-se da Obra, fato que deu muita alegria a Rômulo e a nós Gen,
que passamos a sentir a sua casa e a sua família como se fosse a nossa”.
Alguns anos mais tarde,
Rômulo sentiu a vocação ao Focolare e partiu para a Escola Internacional de
Formação dos Focolarinos, na Itália. Quando voltou para o Focolare de BH, dois
anos depois, tinha manifestado os sintomas de uma grave doença, o Lupus. Os
focolarinos que viviam com ele naquela época se lembram deste período da sua
vida, ao mesmo tempo difícil, profundo e belo. Ele estava muito mal
fisicamente, com muitas dores, típicas da doença. .
Um fato que chamava a
atenção é que, sob aquele corpo sofrido e fragilizado, se percebia um espírito
vigoroso, cheio de fé, amor e alegria de viver. Um coração enorme, uma
inteligência privilegiada, acompanhada de grande simplicidade, uma humildade
verdadeira e um profundo amor a Deus e aos irmãos eram as características que
mais se evidenciavam nele. Rômulo agia como alguém que recebe tudo das mãos do
Pai, sem reservas ou ressentimentos. Apesar do sofrimento físicos e moral, ele
jamais perdia seu bom humor, seu entusiasmo pelo Ideal e sua simpatia natural.
Ao observar-se tudo isso, só uma conclusão é possível: esse seu comportamento
só podia ser resultado de um amor incondicional por Jesus Abandonado e de uma
adesão total à Vontade de Deus. Quando a doença se agravava durante os períodos
de crise, Rômulo compartilhava com os focolarinos a sua entrega sem reservas a
Deus, sem nada temer, confiando no seu Amor infinito.
O focolarino casado e médico
Eugênio Dumont sintetiza com beleza a profunda experiência de unidade vivida
com Rômulo desde o momento em que este chegou no focolare de Belo Horizonte. “Para mim é muito difícil expressar em
palavras os sentimentos que ao longo de tantos anos cultivamos eu e Rômulo,
numa parceria de situações extremas, mas que se completam: dor-amor,
angústia-alegria, fracasso-sucesso, certeza-incerteza, paciente-médico,
médico-paciente, apego-desapego, inferno-paraíso, morte-ressurreição. Agora,
tenho a impressão que uma grande amizade foi conquistada, dando a certeza e a
alegria de ter um grande amigo no Céu”.
Quem acompanhou mais de
perto essa experiência extraordinária vivida entre os dois filhos de Chiara,
construída também na dimensão médico-paciente, sabe que se deve muito a ela o
fato de Rômulo ter superado e muito as mais otimistas previsões médicas feitas
sobre o seu estado de saúde, antes da sua chegada a Belo Horizonte.
E num certo momento, Rômulo
decidiu, em unidade com a Obra, deixar o Focolare e, algum tempo depois,
sentiu-se atraído pela vocação dos Voluntários, entrando em um Núcleo. Seus
últimos anos, portanto, ele os viveu como Voluntário. Muitos são os testemunhos
dados pelos voluntários sobre a vida de Rômulo, os quais estão direta ou
indiretamente presentes neste texto.
Entre essas impressões
pessoais, relatam-se aqui dois depoimentos de voluntários de BH, os quais
exprimem bem a alma de Rômulo como Voluntário e promotor do Ideal da Unidade.
Lembra-se Ademir Procópio: “sempre percebi no Rômulo um amor muito
grande pelo Ideal, um desejo enorme de se doar aos irmãos, um amor sincero pela
Igreja e por Maria Desolada, além de um forte espírito de oração”.
“Sua vida, como voluntário, foi marcada pelo desejo de
estar sempre unido, não obstante suas limitações físicas e suas dificuldades
financeiras. Nada disso lhe impedia de ir em frente, de lutar, batalhar, fazer
projetos, pois tinha muitos sonhos e propósitos muito santos. Além da Teologia
e da Filosofia, Rômulo tinha paixão pela Informática e pelas telecomunicações,
e sempre estava disponível para um bate-papo via Skype, o que estreitava a
unidade entre nós, diminuindo as distâncias”.
“Sem considerar suas dificuldades pessoais, Rômulo
muitas vezes acolheu generosamente em sua casa voluntários que vinham a BH
fazer tratamentos médicos. Quando soube do grave problema de saúde de sua mãe,
manifestado nesses últimos dois anos, ele dedicou-se intensamente a ela,
esquecendo-se de seus próprios limites. Acompanhava-a as consultas médicas, aos
hospitais, cuidava do seu tratamento, comprava os remédios e preocupava-se em
fazê-la toma-los nos horários certos, além de fazer-lhe companhia nos fins de
semana”.
Nos últimos meses, seu irmão
Zezé, dando-se conta da grave situação do Rômulo e da mãe, acolheu-os na sua
casa. Ele refere-se com emoção aos momentos passados em casa com Rômulo, nos
quais tinham longos e profundos colóquios e também rezavam juntos o terço.
Seus numerosos irmãos e
irmãs também lhe dedicaram muito amor durante esse período, especialmente
durante a sua última internação.
Luciano Sepúlveda recorda-se
em especial de duas circunstâncias vividas com Rômulo, que muito lhe marcaram. “Conheci o Rômulo quando ele chegou ao
Focolare de BH, vindo da Escola Internacional do Focolarinos, no início dos
anos 2.000. Ele estava muito mal fisicamente, por causa do Lupus, doença muito
grave que tinha levado os médicos europeus a desengana-lo”.
“Logo vi que, sob aquele corpo sofrido e fragilizado,
havia um espírito vigoroso, cheio de fé, amor e alegria de viver. Um coração
enorme e uma inteligência privilegiada, que abarcava talentos e conhecimentos
vários, indo da Teologia e da Filosofia à tecnologia informática”.
“Porém, o que mais me chamou a atenção foi a sua humildade
e o seu profundo amor por Deus, à aceitação plena da sua difícil situação de
saúde. Ele agia como quem recebe tudo das mãos do Eterno Pai, sem reservas ou
ressentimentos. Apesar dos sofrimentos físicos e morais, Rômulo jamais perdia seu
bom humor, seu entusiasmo pela vida e pelo Ideal, sua simpatia natural e seu
amor concreto pelo próximo”.
“Observando tudo isso, concluí que a causa desse seu
admirável comportamento não poderia ser que um grande e incondicional amor por
Jesus Abandonado, e um total abandono confiante à Vontade de Deus”.
“Nesses últimos dez anos, fizemos vários colóquios, às
vezes com intervalos de meses ou até de um ano ou mais um do outro, mas sempre
caracterizados por uma grande profundidade, tanto humana quanto espiritual,
sempre com a presença iluminante de Jesus no nosso meio. Lembro-me de modo
muito especial de duas experiências vividas com ele que muito me marcaram, e ao
mesmo tempo me deram a exata dimensão da sua grandeza como filho de Chiara”.
“Estando uma vez necessitado de uma ajuda técnica no
campo da informática, para incrementar as minhas aulas de História da Arte,
recorri ao Rômulo, que entre outras coisas, era um expert nessa área. Fiquei
impressionado ao ver que, não obstante a sua fragilidade física decorrente da
doença, o cansaço depois de um dia de trabalho, ele ainda encontrava força,
disposição e alegria para me receber na sua casa e colocar-se inteiramente à
disposição para socorrer-me no que precisasse”.
“Em outra situação foi ele que me procurou, para
colocar em comum comigo uma delicada, séria e complicada situação que estava
vivendo, um verdadeiro dilema moral, que muito o fazia sofrer naquele momento .
Por causa da grande confiança mútua e da unidade madura que tínhamos
construído, pude, com a ajuda do Espírito Santo e de Jesus presente entre nós,
oferecer-lhe minha opinião a respeito, com muita liberdade, sinceridade e
simplicidade. Mais uma vez, impressionou-me a grande humildade do Rômulo, ao
aderir imediatamente à Vontade de Deus naquela situação específica, assim que
esta lhe ficou clara, através da oração e da presença iluminante de Jesus entre
nós. Apesar do grande sofrimento e da renúncia que isso lhe exigia, ele soube
dar o difícil passo, confiando-se totalmente na misericórdia divina e na
unidade com os irmãos de Ideal. Ele sempre nos pedia orações, ao mesmo tempo em
que nos assegurava as suas”.
Relata o voluntário William
Galvão: “Há tempos gostaria de compor o
meu pequeno "con-tributo” ao irmão Rômulo, embora os limites humanos até
aqui me impeçam de fazê-lo bem.
Devo dizer, entretanto, que o conheci nos idos dos
anos oitenta, em um Congresso do movimento Gen's aqui em Belo Horizonte.
Fazia-me muito impressão a sua pureza e a sua
capacidade de enxergar nos outros sempre o bem e a verdade. De ver nas pessoas
somente o que elas tinham de melhor e fomentar nelas a dilatação deste bem,
tudo de uma forma fortemente Mariana e translúcida.
Posteriormente, fomos Gen e ele se tornou o branco da
minha primeira Unidade Gen em BH. Pude verificar o quanto encarnava bravamente
o Ideal, sobretudo, quando montamos juntos uma escola de informática em
Contagem. O viver as palavras do Evangelho se transformava para ele em
didática, em administração, em números e em vida. Abraçou com tal radicalidade
o Ideal que se lhe despertou o desejo de ser Focolarino. De fato, era do seu
perfil ser totalitário. No curso dessa experiência descobriu-se doente e teve
que retornar ao Brasil e por fim, sair do Focolare. Pediu-me para dividir
comigo um apartamento. No seu quarto, guardava a imagem de "Maria
Desolada" com um apreço todo especial. Aliás, no curso de sua "Viae
Maria", ela, a Desolada e Ele, o Abandonado, foram seus inseparáveis
companheiros. Nos momentos de crise da doença que o assolava, no tratamento
doloroso, nas aulas de Tai chi chuam... Sempre um "por Ti Jesus".
O seu Sim a Deus, ao Abandonado e à Mãe que tanto
amou, se consumou no alto dos seus 44 anos com a simplicidade de quem nada
possui senão, ao Tudo que é Deus....”
O Voluntário de BH Daniel
Silveira, que sempre esteve muito próximo ao Rômulo e, de modo especial, o
acompanhou no seu último período no hospital, relata como lhe impressionou ver
que, coerentemente com toda a sua trajetória de vida, ele, também nos seus
últimos e difíceis momentos, estava entregue nas mãos de Deus, com confiança e
paz.
A todos os que conseguiram
visita-lo no hospital, antes que ficasse inconsciente, Rômulo confidenciou duas
coisas: “que se tinha colocado total e
definitivamente nas mãos de Deus quanto à sua vida e saúde, aceitando
incondicionalmente a Sua Vontade, fosse qual fosse. E que, caso o Eterno Pai
ainda lhe concedesse tempo, gostaria de servi-Lo como sacerdote.”
Deste modo, Rômulo
manifestava, pela última vez nesta vida, sua maior característica espiritual: um abandono
humilde e confiante nas mãos de Deus, junto a uma inabalável disposição em
servi-Lo.
Como conclusão, citamos o
que disse sobre Rômulo seu sobrinho Giovane Teixeira, que conheceu dele o Ideal
e hoje é um Voluntário. Essa frase resume perfeitamente o que todos nós,
internos da Obra, parentes e amigos, sentimos no fundo da nossa alma em relação
ao nosso caríssimo Rômulo: “Amando os
seus, amou até o fim. Ele amou, por isso existiu e deixou tanta unidade entre
nós”.