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sábado, 25 de maio de 2019

Histórias de Verdade - 1 - O CASO DE SANT'ANA, MÃE DA MÃE DE Ó CRISTO


ATENÇÃO! APRESENTO-LHES UMA NOVIDADE NESTE NOSSO BLOGUE:


Recentemente, certa noite numa casa de campo onde elas estavam hospedadas descansando após a doença e consequente morte de mãe delas eu resolvi contar que estava escrevendo um livro que pretendia publicar e então li para elas a primeira história do desejado futuro livro. 

 Li para essas duas irmãs, minhas amigas Gel e Fátima, Focolarinas que vivem na África há mais de 30 (trinta) anos. 

 Interessante é que elas gostaram e me sugeriram que não esperasse acabar de escrever todas as histórias ou capítulos para publicar em livro num futuro que não se sabe quando... 

 "E se não puder terminar por um motivo qualquer?" 

"Vai publicando cada história que escrever"! 

Dai porque me animei e agora resolvi ir publicando pouco a pouco, à medida em que for escrevendo. Criei coragem e disse a elas que assim o faria! 

Se tiver algum retorno, se servir para ajudar alguém, se servir ao propósito deste meu Blogue que é tentar vivenciar as palavras evangélicas na tentativa de ajudar uma pessoa qualquer a também seguir nosso Grande Amigo Jesus Cristo... Então começo a publicar aos conta-gotas! 
                                                 

 "HISTÓRIAS DE VERDADE" 


 Nota prévia do autor: as histórias que relato neste ensaio são verídicas e fazem parte de minha vida, que irei contando na medida em que vou me lembrando dos fatos. Mudarei nomes e locais. Qualquer semelhança que porventura aparecer na imaginação de quem ler será mera aparência. Espero que estas histórias possam trazer alguma reflexão aos leitores ... Vamos lá! 


" 1. O Caso de Sant’Ana, mãe da Mãe de Ó Cristo. 


Numa sexta pela manhã recebo um telefonema do Sr. Carlito, com um problema muito urgente. Digo que pode vir ao escritório imediatamente, que eu o atenderei de bom grado.

 Meia hora depois me chega o cidadão espavorido, desesperado, mostrando-me um mandado judicial com ordem de despejo compulsório, imediato, sob pena de ocorrer a desocupação na próxima segunda-feira com uso de força policial e essas coisas apavorantes para o pobre do demandado! Bem...

Eu lhe disse que não esperasse nada de mim que esse negócio estava muito encrencado, de última hora, complicado... Ainda mais que o processo já tinha ido até ao Supremo Tribunal Federal. Nossa Senhora! Aquele tal de Supremo fala que o branco branquinho não é branco, é preto! Ou afirma que o vermelho é amarelo! O que é que vou fazer?

 Disse ao infeliz que me voltasse à noite, depois das 18:00 horas, que eu iria ver no fórum como é que era mesmo o tal processo... O cara saiu do escritório e eu fiquei matutando, pensando...De repente deu-me um ânimo e saí direto para o fórum, a passos firmes.

Achei o processo e consegui do escrivão um tempinho com ele em mãos... Tirei uma cópia integral e fui atrás do Oficial de Justiça, muito meu conhecido. Caetano, como é que está o caso hein? Quando viu qual era me disse que já estava tudo preparado: o destacamento dos policiais militares, para garantir a diligência; o caminhão, para levar a mudança e o trator para derrubar a casa, tão logo desocupada. E tudo isso para as sete da manhã da segunda seguinte! E era sexta-feira, início da tarde!

Caetano, por favor, em nome de nossa amizade desde os velhos tempos do cartório do Julinho, meu padrinho de casamento... Por favor, pelo menos retarde o despejo, das sete da manhã para a parte da tarde... Até eu falar com o Juiz... Até uma da tarde. Por favor! Não há nada de errado nisso. Está tudo certo. Se o Juiz mantiver a ordem eu mesmo ajudarei e convencerei a família do Sr. Carlito a deixar o imóvel.

Caetano pensou, refletiu... e então falou: ”Otaviano, eu porque te conheço há muito tempo e sei que és homem de palavra. Tá bom, vou segurar o processo até às treze horas de segunda e vou te esperar aqui na porta do Juiz. Daí em diante saio para cumprir o mandado. Ainda terei que avisar o pessoal que a diligência será às treze horas e não às sete... Se fosse outro realmente eu não daria essa colher de chá, mas eu te conheço”.

Voltei ao escritório e comecei a imaginar as coisas... Telefonei para o Sr. Carlito avisando-lhe que estava estudando o caso, tinha visto o processo e que já tinha conseguido que o despejo fosse depois do almoço, ao invés de sete da manhã. Afirmei-lhe que lhe daria notícias imediatas a cada passo do caso e despedi-me.

Já era tarde e eu já estava desgastado só pensando no que fazer, o que faria, será que haveria uma saída? Já meio até confuso com tudo aquilo resolvi ir embora pra casa pensando que a cada dia bastava o seu fardo.

Amanhecera um sábado de jogo do Brasil em Copa Mundial e todo mundo estava se ajeitando em casa ou nalgum boteco, com suas cervejinhas e salgadinhos, tira-gostos e pingas das boas... Quando o Brasil joga, principalmente em copa mundial, é uma festa só. Mas a seleção tem que ganhar, né?
Se perder, entretanto, o mundo não vai acabar. Bebe-se mais uma e depois de muitos xingatórios, de muitos palpites sobre se o técnico tivesse chamado tal jogador, a tal hora do jogo, o resultado seria outro, ganharíamos! Nem vi como estava a coisa nesse mundo do futebol, porque minha cabeça estava impregnada do despejo iminente, de uma busca de solução, de uma saída para aquela família desesperada.

Fui para o escritório, cumprimentei meu colega, atuante já há dez anos antes de mim, muito conceituado no meio forense, até renomado e então presidente de nossa Ordem dos Advogados. Depois de mais de três horas foleando e tornando a olhar todas as páginas do processo, cuja cópia estava em minhas mãos, tive que me socorrer com o colega.

Ari, veja se você pode me dar uma mãozinha neste caso, ainda não vi nenhuma saída! Pegou o processo, olhou-o todo, pra cima e pra baixo, parou, deu um suspiro e disse-me: “Otaviano, você ainda não aprendeu até hoje a dizer NÃO para um cliente? Isso não tem saída não! Não tem jeito nenhum!”

Fiquei meio furioso com aquela resposta e lhe disse: “Tá bom! Mas hoje eu não saio desse escritório enquanto não achar uma saída para esse caso. A família está desesperada. E ainda tem um bispo que é irmão do cara que está sendo despejado”! E fui para minha sala recomeçando a folear o processo... 

Meia hora depois, antes de sair para casa, acho que meio que arrependido com a negativa quase que violenta que me dera, o bom coração do Ari o fez vir à porta da minha sala ... Disse-me: “Dê uma olhadinha no Humberto Theodoro, que ele tem umas coisas interessantes neste seu livro sobre posse”... E foi embora.

 Tão logo saiu comecei a pesquisar meu tema, letra a letra... Foi quando li que em caso de ação judicial para retomada de um terreno, reaver uma posse perdida, seria necessário que todos os ocupantes, invasores ou posseiros participassem do processo, tivessem conhecimento de seus termos, fossem citados para se defenderem nos autos.

Voltei ao processo para conferir os nomes das pessoas demandadas, das citadas, das anunciados pelo autor do pedido... Uma a uma. Vi o Sr. Carlito, sua mulher Dona Deusmira, o filho Anselmo, a filha Sônia... Uai, cadê a Dona Ana? A velha da casa, mãe do Sr. Carlito, aquela que havia tomado posse do terreno, do lote; construído a casinha. Cadê Don’Ana?!

Fui tomado de um arrepio da cabeça aos pés. Estremeci-me todo. Tremi e dei um grito forte, xingando aquele nome f.d.p. a toda altura... De alegria! De alegria!

Veio-me à cabeça, num estalo uma musiquinha cuja letra é assim:

 ”Sant’Ana mãe da Mãe de ó Deus, Sant’Ana vó de ó Cristo! Sant’Ana a maior santa que no céu apareceu. Sant’Ana mãe da Mãe de ó Deus, Sant’Ana vó de ó Cristo!”

Saí correndo do escritório, fui pra casa almoçar. Tomei uma braminha, depois de uma pinguinha, enchi o pandú... Alegre da vida! Descansei e voltei ao trabalho. Tinha dito em voz alta, eis que não havia ninguém no escritório para me chamar de doido:

“Olha Sant’Ana, eu nunca te pedi nada. Nunca te amolei. Portanto eu sei que tu vais me atender: salva tua xará e a família dela e não deixes que eles sejam despejados!

O marido Da. Ana, Sr. Carlito era empregado de uma família que era proprietária de um mundão de terra na periferia da cidade, chamada Fazenda Acaba-Mundo. Ficava ali no lado sul e ia até ao pé do morro, lá em cima, bem lá em cima. Tinha uma vista maravilhosa de praticamente toda a cidade. Aliás dava pra ver toda a cidade, a cidade daquela época, nos anos quarenta, por aí.

Engraçado, esse nome veio do riacho que descia do alto do pé da serra e ia volteando morro abaixo até desembocar lá no Arruda, passando pelo Parque Municipal, que está lá até hoje. O Acaba Mundo foi todo tampado e ninguém mais dá notícia dele!

Pois é, o cantinho que o patrão deixou Carlito e Ana ocuparem com uma casinha bem simples e feita por eles com uma ajudinha de nada do dono, situava-se no biquinho final do terreno, cá em baixo, onde o córrego passa hoje – escondido e tampado - para o outro lado de uma grande avenida, atual saída da cidade para os lados do Rio de Janeiro. Pois bem, os ditos donos, Dr. Mauro e sua patroa D. Zizinha, filho e nora de um dos industriais mais ricos do país e que acabara de ganhar incalculável fortuna em negócios daquele tempo da grande Guerra; resolveram lotear a fazenda, surgindo alí um dos bairros mais importantes de nossa capital.

Há bem no meio do bairro um colégio de freiras muito conceituado e dos melhores, construído em terra doada pelo bondoso e imenso coração de Da. Zizinha, senhora de prendas e quitutes conhecidos e famosos na época, além de exemplar e amorosa mãe de família. Eu a conheci. Tenho saudades. 

Restou então da referida fazenda, esse biquinho cá embaixo onde morou por mais de cinquenta anos Da. Ana, seu marido Carlito, irmão do bispo e os filhos. E, lá encima, mesmo no pé do morro e praticamente na nascente do riacho Acaba Mundo, resistiu um montinho de gente, dos ex-empregados da fazenda e que ali permaneceram eis que não tinham condições de morar noutro lugar da cidade e porque Da. Zizinha convenceu o marido a deixa-los quietos alí!

Hoje o pedaço, aprazível, com poucos moradores e onde todos se conhecem e bem convivem; ainda mantém à vista o córrego solto e livre e o local chama-se Vila do Acaba Mundo, vejam só que coisa boa!

Imaginem, pois, a dinheirama que estava valendo aquele lote daquela casinha do casal Carlito e Ana. Casal esse que ainda agora não tinha condições de morar em outro lugar na cidade, eis que continuava ainda extremamente pobre. E agora, sábado de jogo da Seleção brasileira em Copa Mundial; com o Sr. Oficial de Justiça, os PMs, o caminhão e o trator somente esperando dar as treze horas dessa segunda-feira terrível para despejarem a família, botar seus troços para mudança para não se sabe onde e derrubarem a casa onde os sonhos e as alegrias se alternaram por mais de cinquenta anos?

Pois é, como estava dizendo, voltei ao escritório alegre da vida, com fé total nos préstimos de SantA’na, mãe da Mãe de Deus, que iria ajudar a salvar a família do bispo, imbuído de uma certeza na ciência do já famoso jurista Theodoro, esse dom de Deus para nosso meio jurídico.

Fiquei no escritório até às onze e meia da noite e terminei a petição, de muitas folhas datilografadas porque a tal digitação ainda estava capengando nos meios jurídicos!

Segunda-feira, exatamente às 12:55 cheguei à porta do Juiz e lá já estava o Sr. Oficial Caetano que cumprimentou-me dizendo: “O homem já está aí!”, referindo-se ao Juiz.

Entrei com a conhecida pastinha de advogado, cumprimentei o meritíssimo, abri a dita, dela retirando a petição. Resumindo, eu escrevi afirmando que o processo todo estava nulo porque Da. Ana a principal ocupante do terreno não tinha sido citada para responder ao processo e isso tinha passado desapercebido por ele juiz, pelos desembargadores do nosso tribunal mineiro e pelos ministros do Supremo que atuaram no processo, inclusive pelos advogados que tinham representado, até então, os autores!

E a coisa mais inusitada de tudo isso foi que o juiz era o mesmo que atuara no processo desde o primeiro passo, anos atrás. Conhecia muito bem o processo!

Eu vi a satisfação mal disfarçada do meritíssimo quando ele escreveu de próprio punho: “Suspendo o despejo. Recolha-se imediatamente o mandado do Sr. Oficial de Justiça. Intime-se o autor para se manifestar nos autos no prazo legal”.

Olha gente, quem fala que o advogado não deve se emocionar com os problemas do cliente; que não pode se deixar levar pelo coração: que tem que somente ser racional, lógico, objetivo; é mentiroso ou, no mínimo, não tem coragem de se expressar com sinceridade.

O advogado é um todo, é um conjunto de profissional, pai, mãe, psicólogo, médico, um ser de corpo e alma e divindade! Um ser que salva, que traz alegria, que acredita no impossível, que faz o que pode e até o fim! Um profissional que geme e chora com o cliente, um ser humano que vive na busca de solução de um problema que não é seu mas que se torna seu.

Uma coisa interessante que me veio à mente agora, aliás duas coisas ou dois pensamentos; sobretudo por ser início de dezembro, fim de ano, espera da chegada do menino-Deus.

Após o dia de sua Ressurreição, Jesus disse ao seus amigos que não ficassem tristes porque ele iria ao Pai e o Pai lhes enviaria o Paráclito, Consolador, o ADVOGADO!

Lembrei-me, outrossim, da interessante e costumeira oração que fazemos chamada “Salve Rainha”, que no meio dela temos os dizeres “ADVOGADA nossa, salve!” Quer dizer que os advogados são bem cotados na Escritura Sagrada! Isto sem que nos esqueçamos de uma frase que encontramos no processo de canonização de São Ivo, o protetor do advogados: “... advocatus, sed non latronem.”! (Creio que nem precisa traduzir...).

E então, voltando do fórum, exultando de alegria, telefonei aos clientes anunciando a boa nova e dizendo-lhes que aguardassem que viria notícia boa por parte dos autores do pretendido despejo ou retomada do imóvel de residência da família.

 Como soube depois, quem havia pedido a expulsão de meus clientes do imóvel por eles ocupado havia mais de cinquenta anos, já havia planejado um empreendimento enorme no local (eis que já tinham os terrenos vizinhos) que compreenderia um hotel, um centro comercial e um Shopping Center. E já havia planta engatilhada e praticamente aprovada pela prefeitura e todo preparo para o início dos empreendimentos!

Após mais de 6 (seis) anos de demanda judicial, qual não teria sido a apreensão somente ao pensar que provavelmente mais seis anos deveriam demandar! O advogado do autor da demanda telefonou-me no dia seguinte e já marcando uma reunião para tratarmos do assunto do aparecimento de Da. Ana na questão.

Conversa vai, conversa vem, reunião daqui e dali e, numa semana tudo se resolveu! Êta Sant”Ana, beleza pura, silenciosa Vovó! A grande AVÓ de toda a história da humanidade, como deveria ser venerada!

Que coisa admirável aconteceu na efetivação do acordo resultante de nossas reuniões, sob as graças da mãe da Mãe de Cristo. Só para recordar, a casinha dos demandados meus clientes, que eles construíram tempos atrás na pontinha do terreno da Fazenda do Acaba Mundo, agora estava de frente a uma grande avenida, movimentadíssima; que mais não guardava o silêncio dos velhos tempos com o cantar dos grilos, sapos e passarinhos dos anos quarenta.

Foi-lhes ofertada uma casa nova, recém construída, novinha em folha e ainda não habitada por ninguém! De dois andares, estilo colonial, com garagem para dois carros folgadamente e até quatro carros com certo aperto; num bairro calmo, ainda que central e vejam; perto do convento onde havia morado o bispo cunhado de Da. Ana e onde ele iria morar, na sua aposentadoria.

Demais disso, mais um apartamento pequeno entrou no acordo, de um quarto e próximo da então negociada casinha, onde iria morar o rapaz solteiro da família e que havia ali nascido, o qual ainda foi regalado com uma moto CB 400! Tudo isso com escrituras passadas e registradas e moto com documento transferido pro rapaz no Detran; tudo chancelado por sentença judicial homologatória do acordo relatado! E viva Sant’Ana, mãe da Mãe de Ó Deus, Mãe de Ó Cristo.